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  • Sexta-feira, 24 de dezembro de 2004


    Sobre o tempo
    por Rodrigo Leme


    A casa vazia carregava ecos de celebrações, todas elas enterradas no passado. Clarice apagou a última luz da casa e subiu as escadas. Lembra de ficar com a irmã junto ao corrimão, aguardando a hora de dormir, quando o pai apareceria nos primeiros degraus, prestes a conduzir suas duas princesas à cama.

    Caminhou para o quarto, passos pesados pressionando o piso de madeira, gerando o único som da casa, um ranger fúnebre, contrastando com os sons de alegria que um dia pertenceram ao lugar. A casa pertencia somente à Clarice, e ainda assim o silêncio era um companheiro insuportável.

    A mesa de cabeceira ainda era a mesma, com o mesmo copo d’água de sempre. A cama também não mudou, com os costumeiros lençóis e o sempre presente travesseiro. Levantou-se, caminhou para a penteadeira. Trabalhada pelo pai em madeira, trazida com ele da Itália, tinha detalhes tão sutis e onipresentes que transformaram um simples móvel em saudades da pátria que ficou para trás, na linha do horizonte enquanto cruzava o oceano.

    Clarice olhou para o espelho, tão velho quanto a penteadeira e todo o resto. Espantou-se: tudo era o mesmo, ela que havia mudado. A deterioração da mobília nada era perto da deterioração de sua vida.

    Sentiu-se atrasada, mas não como quando se atrasa para um compromisso, mas como tivesse se atrasado para viver. A angústia embarcara em seu espírito quase tão rápido quanto o mal estar que atingira seu corpo. Quis chorar, mas algo a impedia. Estava no meio do caminho; via-se entre tomar coragem, encarando o problema, e se render à amargura.

    Naquela noite, pssou todo o tempo no terraço, contando estrelas. Deu a cada uma delas o nome de um de seus problemas. Quando o dia apareceu, problemas e estrelas ficaram onde realmente residem: na escuridão.


    Sexta-feira, 17 de dezembro de 2004


    Memórias de um velório

    Sabe aquilo que dizem sobre velórios? A lembrança das pessoas presentes fica um tanto embaçada, talvez por querer estar em outro lugar que não seja um tão triste, então as memórias do evento ficam meio para trás. Leonardo estava sentindo isso durante o serviço, ao lado de várias pessoas da família. É verdade, ele era meio que divorciado emocionalmente de sua família, desde que sua mãe morreu 5 anos antes. Naquela época, a sensação era a mesma de hoje, de confusão, de dormência. Quando dona Márcia morreu, seu pai já tinha saído de casa há tempo suficiente para esquecer que tinha uma família.

    E o cheiro...odiava o cheiro de velórios. Aquela mistura de ambiente esterilizado de hospital com coroas de flores, perfumes, e gente velha. Ele ficava enjoado, a ponto de ter que sair para tomar ar de tempos em tempos. Numa dessas saídas, olhou para a janela do corredor do prédio do cemitério.

    O sol começava a ficar mais forte, batendo em cheio nas placas das covas, gerando brilhos interessantes. O calor não chegava ao prédio, estranhamente frio como a morte deveria ser. De qualquer maneira, era um belo dia para qualquer coisa, menos para morrer (não que haja bons dias para morrer, acrescentou). Da janela, via duas ruas de acesso aos jazigos: uma à direita que subia, outra à esquerda que descia. O canteiro central era povoado por palmeiras enormes, e grama surrealisticamente verde. Em uma das palmeiras, a placa apontava para a pista da esquerda e dizia “proibido o retorno”. O cemitério prosseguia morro acima até se perder no horizonte.

    Voltou-se para o salão, e ao entrar encarava o caixão. Bela madeira, bem lustrada, com os detalhes em dourado, e todo fechado, coberto pela tampa. Caixões eram todos iguais, mas nem por isso deixavam de ser bonitos. Leonardo só estranhava tanto esmero para algo que iria pra o fundo da terra mesmo. Porém, acreditava que enterros eram sobre homenagear, e nada homenageia mais que um belo caixão de jacarandá, coroado por flores de R$150. Por mais mórbido que seja.

    Com horas ainda faltando para o enterro, sua cabeça se distraia olhando para as pessoas. Como em um jogo de adivinhação, tentava lembrar quem eram aquelas faces conhecidas; primos de graus distantes, tias-avós, e outros parentescos povoavam o salão. Nunca foi muito família, sempre foi meio afastado dessas pessoas, então não era de se espantar que ninguém falava com ele; muitos ali provavelmente nem lembravam dele, ou estavam chorosos demais para perceber quem estava ou não lá.

    As conversas, os papos furados permeavam o ambiente junto com os odores; era a segunda coisa que mais lhe irritava em velórios. Tinha uma teoria sobre conversas em velórios que era quase sempre confirmada: as pessoas nessa situação gostam de falar sobre a morte incessantemente. Claro que se existe um lugar apropriado para se falar disso, é um cemitério, mas as pessoas têm uma fixação doente pela morte quando presentes em um velório. Talvez a morte de alguém conhecido seja uma chamada, talvez lembre as pessoas do quão perto elas estão de algo que nem pensam durante um dia normal. Talvez falem sobre morte simplesmente para provarem para si mesmas que ainda estão vivas.

    Leonardo achava isto gozado; tudo o que pensava durante velórios era sobre a vida. Quer dizer, uma pessoa que morre é uma série de desejos não realizados, amores não vividos, sensações não experimentadas...um velório é um lugar perfeito para se pensar em tudo que vai fazer logo depois que o morto for enterrado, para depois não se fazer nada. Continuava a se distrair com os presentes, até que seu olhar caiu ruidosamente sobre uma pessoa: dona Lurdes.

    Dona Lurdes, ou Lurdinha, como a mãe de Leonardo chamava a gorda e simpática senhora, tinha a face da desolação; parecia ter ganho 10 anos e perdido toda a cor de suas bochechas rosadas, agora cobertas por lágrimas grossas e brilhantes. Sua melhor lembrança de Lurdinha é do dia em a mãe terminou a pintura. Leonardo lembra que sua mãe sempre foi muito boa em pintura, e seu maior orgulho foi ter pintado o rosto do filho (“belo rosto” como ela diria), eternizado na tela com tinta.

    Dona Lurdes foi a primeira a ver a pintura na época, junto com Leonardo, e ele nunca tinha visto tamanho brilho nos olhos daquela senhora, de ver o filho da amiga tão belamente retratado. Agora, o brilho se fora, e Leonardo se pergunta onde está o marido de Lurdinha que não está lá para ampará-la. A pergunta é respondida na mesma hora, com a entrada do sr. Roberto no salão.

    Os braços já idosos carregavam uma grande moldura, e ele se dirigia ao fundo do salão, atrás do caixão. Roberto ajeita a moldura, e o Leonardo reconhece o quadro: um retrato de um jovem de 15 anos. O choque o leva a reagir mais lentamente, e só percebe depois de longos segundos que é seu retrato, o mesmo pintado pela mãe 10 anos atrás. Subitamente, as coroas ficam mais claras, e os textos aparecem: “Saudades do querido sobrinho”, “Homenagem ao nosso amigo”.

    Ele corre pelo salão, o coração batendo forte no peito (batendo?). Na porta do salão, a placa diz, com as letras tão devastadores que lhe machucam os olhos: “Leonardo Mendes Rabelo”. Sente-se tonto, precisa respirar (precisa mesmo?). Olha para as mãos, e as vê sumindo e reaparecendo, como em um filme desfocado. Quer chorar, mas não consegue, as lágrimas já não existem mais. Pensa na vida, e no que não vai fazer mais. Não pensa mais em morte, porque não pode se convencer de que está vivo.

    Vira-se mais uma vez para a janela do corredor, observa o mesmo canteiro central do cemitério, vê as pistas que agora só parecem subir até o horizonte e fixa o olhar uma última vez na placa que diz: “proibido o retorno”. Fecha os olhos, enquanto se desfaz, viajando do frio do corredor para o calor do sol.



    Sexta-feira, 10 de dezembro de 2004


    O dólar-puta


    Em tempos de economia instável, passamos os olhos nas Vejas, Istoés e Épocas da vida, todas elas com planos mirabolantes do governo para salvar a saúde (cancerosa, gangrenada) financeira desse país. Ministros vão e vem, o presidente ganha novos cabelos brancos a cada dia, mas o Brasil continua atrelado ao dólar-papão. Colamos várias vezes ao dia na internet torcendo para que ele tenha dado aquela baixadinha, para pagar aquela viagem bacana para a Disney.

    Oras, será que ninguém enxerga a solução mais prática para o problema? Qual é o produto nacional mais estável e rentável do Brasil? Café? Soja? Laranja? Não, amigo, PUTARIA!!!! Não é de hoje que o amor pago está na ponta das grandes soluções de negócio do país. Prostitutas dirigem carros importados, comem no Fasano, compram na Daslu, enquanto seus cafetões montam impérios do sexo, fazendo dinheiro que poucos empresários no país fazem.

    A solução para o drama da moeda nacional está nos faróis de cada país. Mais uma grande inovação do mercado putanhesco brasileiro!!! O dólar-puta! Quem nunca recebeu aqueles papéis em forma de nota de dólar, que servem como propaganda de casas de massagem e solicitação? Aquilo é moeda forte, meu amigo! Aquele simples papelzinho com uma mulher nua na frente e um mapa de localização atrás gera divisas astronômicas para este mercado, trazendo empregos, estabilidade, salários em dia, benefícios e prosperidade para todos. Sinceramente, que moeda brasileira foi forte o suficiente para dar esta segurança ao povo?

    Como quase todos nós sabemos, toda moeda precisa de lastro, que determina o valor da moeda em circulação, dentro do país e fora dele. Os EUA têm uma reserva de ouro que garante o valor alto da moeda, mas e nós? Nem temos certeza se a Amazônia ainda é nossa, e nossos recursos são mal aproveitados, exceto nossas mulheres. Assim como os EUA têm estas vastas reservas de ouro, nós temos prostitutas em abundância nas ruas.

    Nem precisamos fazer esforços para achar as top de linha, e moeda forte é isso: recursos valiosos e abundantes!! Quantos gringos não vêm para o Brasil exclusivamente para o bundalelê? E nosso processo de exportação de meretrizes? Suíça, Holanda, Suécia...as brasileiras são altamente requisitadas. Se esse mercado fizesse parte de nossa balança comercial, superávit seria um eufemismo para o momento do país.

    E empréstimos do FMI? Concordo que não precisaríamos nunca mais de dinheiro de ninguém se procedessemos com a adoção do dólar-puta, mas caso precisássemos daquele troco para comer no Bob's, quem não emprestaria para nós? Que garantia melhor do que ruas tomadas por profissionais do sexo? Manda o Café Photo, o Bahamas e o Connection de garantia, que o dinheiro vai entrar como água!

    Sonho com o dia em que ligarei na CNN e verei a cotação do dólar:

    US$ 1,00 = DP$0,10 (*)

    Nesse dia, todos teremos certeza de algo que já sabemos: ninguém faz putaria como nós. E ao invés de torcermos para o dólar dar uma baixadinha, torceremos para as brasileiras darem uma abaixadinha e assim valorizarem a moeda e o país!!!! Brasil-il-il-il-il!!!!!

    (*) Dólar-puta



    Sexta-feira, 03 de dezembro de 2004

    O princípio e o fim da incerteza

    A chuva fina não o incomoda tanto quanto o resto do mundo. O pára-brisa não limpava o vidro direito, talvez fosse hora de trocar, e ele sabe que tudo que não funciona deve ser trocado, hoje mais do que nunca. Pelo menos, a rua está vazia. Não resistiu a idéia de se embebedar, por menos que gostasse de beber, gostava da sensação que a bebida trazia; ou seja, fazia algo que gostava de cara feia.

    Eugênio também entendia de cara feia, tão bem quanto da sensação de ser trocado. O brilho da chuva no asfalto dá um aspecto quase envidraçado à avenida, que de alguns em alguns metros apresenta sua tradicional bateria de prostitutas, mendigos e gente da noite. Sempre que passa por aqui, pensa se teria coragem de alugar uma das moças que desfilam ao longo da avenida, para ver se alguma delas poderia resolver seu problema. "Putas são para perdedores", fixa na mente enquanto dobra para entrar na Avenida Paulista, e ignorando que ele mesmo se sente um perdedor hoje.

    No fundo, teme não ser capaz de uma ereção depois de hoje. Precisa até mesmo botar a mão dentro da calça de tempos em tempos para sentir que ainda tem um pênis. Não que ele precisasse de um; afinal, o que tinha não desempenhava a função muito bem.

    Que maravilha seria funcionar com uma estranha!!!! Poderia colocar a culpa em Joana por sua incapacidade de satisfazê-la. Mas de que adiantaria? Os papéis foram assinados hoje, em meio a olhares de ódio, tristeza, mágoa e por fim pena. O pior foi ter que deixar o fórum sob os olhares acusadores de todos. Para Eugênio, era como se cada uma das pessoas presentes lá soubesse todos os detalhes de seu processo de divórcio, até os mais sórdidos.

    A chuva agora passa por um período de incerteza; ora pinga um pouco, ora aperta mais. Lembrou-se do princípio da incerteza, formulado por Werner Heisenberg, que diz: "quando desejamos prever a posição e a velocidade futuras de uma partícula, devemos ser capazes de conhecer, antes, a posição e a velocidade que essa partícula tem atualmente". O Princípio da Incerteza de Eugênio diz: “se o Eugênio já sabia como sua vida começou, ele já tinha uma idéia para onde ela iria”.

    O conhecimento teórico não é simples cultura de almanaque; sua carreira é a Física, ou melhor, as aulas de Física que ministra no Colégio Bernardo Agostinho. Se o jaleco já não fosse suficiente, ele tinha aquela cara de alguém que mexe com algo complexo, um tipo introspectivo, 45 anos com postura de 60, alguém a quem você daria seu lugar na fila. A vida o envelheceu; ou melhor, a falta de uma que o satisfizesse.

    O farol passa do vermelho para o verde, o que é uma sorte, pois Eugênio está perdido em pensamentos, afogado em um labirinto etílico. O mesmo não ocorre no próximo farol: Eugênio, sem ao menos reduzir, passa no vermelho. Ele daria tanta importância a este farol quanto ao anterior, não fosse o clarão cegante na sua face.

    Meio que por instinto, e pelo fato de que o flash quebrara a visão de seu espelho d’água na rua, Eugênio pisa com força no freio. Claro que, no estado em que se encontra, Eugênio ainda precisou de 30 segundos fora do carro para deduzir que fora fotografado por um radar da companhia de tráfego. Deu ré, não causando um acidente mais por sorte (ninguém na rua) do que por consciência. A consciência ficou no bar horas atrás. Parado, fica dentro do carro, olhando para o poste, tentando enxergar a maldita caixa do radar, e não vendo nada.

    Já não dava mais importância pra o fato; era mais um tapa na cara de muitos hoje. Engata a primeira e sai lentamente, sendo fuzilado logo em seguida. Dessa vez, o clarão parecia maior ainda, e Eugênio perde o controle por alguns segundos. Não, não, não...chega desta porra!!!!! Mais uma ré, e dessa vez um quase acidente. Se o outro motorista estivesse no mesmo estado de Eugênio, os carros estariam grudados a esta altura.

    Eugênio não dá a mínima, só queria achar a merda do radar fotográfico. Para, fica olhando mais um pouco, e nada. A chuva dificulta a visão. Desce do carro, fica encarando o semáforo, que lhe lança um olhar vermelho, como um ponto raivoso na sua cabeça. Cadê esta merda??? Resolveu chegar mais perto...e quase é derrubado pelo clarão. O flash dispara não uma, mas duas vezes, seguidas, como duas pinceladas de luz. Eugênio não enxerga nada além de pontos pretos na frente dos olhos, e corre para o poste. Chuta, soca, ignorando os cortes e hematomas que isso iria produzir no seu corpo, e gritava:

    SUA PUTA, SUA PUTA MALDITA, LARGUE DE MIM!!!!! QUE MAIS VOCÊ QUER DE MIM!!!!!! QUER ME FODER DE NOVO, QUER????? SUA PUTA!!!!!

    Claro que não se referia ao radar, muito menos ao inocente poste que o segurava. Para Eugênio nada mais importa. É nesse ponto que se pergunta: seria a bebida ou perdi a noção de vez? O corpo dói, ele choraminga, só quer ir para casa.

    Vencera seus demônios internos...talvez até vá escrever em seu diário quando chegar em casa. Achava isso relaxante (escrever, não esmurrar postes às 3 da manhã), e acha que realmente percebeu o quão ridículo (e encharcado da chuva) se sentia naquele momento. Na verdade, viu que o pior já passou, que a vida realmente faz isso com a gente, mas que no final temos cabeça para superar estes problemas. Tinha um emprego, podia começar de novo, existem tratamentos para seu problema na cama, a vida ainda era boa, pouco lhe importava se sua esposa não agüentou o tranco. Pensa até em escrever uma carta lhe agradecendo por ir embora, porque isso com certeza era uma segunda chance. É, uma carta seria ótimo, escrita à mão, agradecendo por tudo, talvez até falando da.........

    Não.

    Mas não mesmo.

    Nãonãonãonãonãonãonãonãonãonãonãonãonãonão, isso não está acontecendo.

    Mas aconteceu. Por um segundo, de costas para o poste, viu sua sombra projetada no chão. A madrugada se iluminou como se fosse dia, com o clarão que atingiu as costas de Eugênio. Ele agora se imagina enrolando a carta e pegando AQUELA VAGABUNDA DO INFERNO, DE QUATRO, E ENFIANDO A CARTA EM TODOS OS BURACOS DE SEU CORPO SUJO!!!!!!!!!!

    Corre para o poste. Incrível como pessoas neste estado fazem coisas impossíveis; Eugênio escala com habilidade pelo poste, e sobre até a metade, onde vê a caixa preta. É o radar? Dane-se, só pode ser. Agarrado ao poste, apoiado em um buraco no mesmo, Eugênio solta uma das mãos e esmurra a caixa. Um golpe, dois, três e nada, só mais machucados na mão. Revoltado, pega a caixa com as duas mãos, e escorrega.

    Pendurado a 5 metros de altura, Eugênio agarra-se à caixa, fazendo peso para baixo. Grita como um louco, freneticamente, na sua maioria palavras desconexas e xingamentos:

    CAICAIXADAPORRAPUTASEVERGONHAQUERIREMBORAVAPROINFERNO VOCÊVAICAIR AGORA NEMQUEEUFIQUEAQUIATÉAMANHÃ!!!!!!!!!!!!!

    A caixa cede mais um pouco. Eugênio finalmente começa a se sentir um vencedor, vai cair, mas junto com a maldita caixa. Pensa até em pisar nela, como em uma dança da vitória, quando o brilho o atinge mais uma vez. O que ele grita, neste ponto do texto, já começa a ficar impublicável. Porém, tem algo de diferente nesse último brilho. Um cheiro de queimado ficou no ar...

    No seu antepenúltimo segundo de vida, sentiu que o cheiro vinha de seu corpo.

    No seu penúltimo segundo de vida, percebeu que o clarão desta vez não vinha da caixa, e sim de um relâmpago.

    No seu último segundo de vida, lembrou-se: “se o Eugênio já sabia como sua vida começou, ele já tinha uma idéia para onde ela iria”.

    Caiu, atingindo o chão de uma maneira que lhe quebraria alguns ossos, caso ainda pudesse sentir algo. A chuva continuava caindo, banhando o corpo, apertando e afrouxando a cada minuto, com os relâmpagos dançando em um baile de incertezas.